
O ti Augusto é um homem bom. Tudo está sempre bem com ele. É generoso, afectuoso, bonacheirão, calmo, gosta de pessoas e de animais, da natureza, de brincos de princesa e de ver o "gordo" na televisão. Homem de 84 anos há três foi operado ao coração, depois de um enfarte. Nunca deixou de vir um só dia ver a quinta. Entristecia-o vê-la abandonada, ou quase, mas um ano depois já tudo estava como dantes.
A D. Maria é muito rezingona com ele, de fazer perder a paciência a um santo. Tudo o que o ti Augusto faça está mal feito e o que não faça também. Por isso ele gosta mais de vir sozinho, sem a "velha a atazanar-me o juízo" como costuma dizer. Mas, há um "ponto" que o tira do sério: as ferramentas nunca estarem no lugar onde as guarda.
A faca! A faca nunca está no seu lugar. A D. Maria serve-se dela mas deixa-a em qualquer lado esquecendo-se onde, e o ti Augusto vê-se sempre "grego" para a encontrar.
Um dia destes o ti Augusto "passou-se dos carretos". Queria cortar umas couves para as galinhas e não achava a bendita faca. Depois de andar mais de uma hora à procura dela por tudo quanto é sítio, diz-lhe a mulher da cozinha que dá serventia ao quintal: Ó gusto a faca está aquiiii, enquanto se abeirava da abertura da sebe que dá para a horta, brandindo a faca no ar.
O ti Augusto, estica-se todo agarrado a uma couve para não se desequilibrar, pega na faca e num gesto desesperado, espeta-lhe a faca nas costas...
- Agora ficas aqui!
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